sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Esboços 3
Fabiana Móes Miranda

Tenho falado aqui de narrativas históricas e narrativas ficcionais na composição de uma imagem/imaginário africano em solo brasileiro. No simpósio que está sendo realizado de 9 a 13 de novembro na UFPE, Recife/Luanda: perspectivas para a cooperação Brasil+África+Alemanha, pudemos observar, mais uma vez, como são formadas as representações no sentido de construção de identidades na relação dos dois países (Brasil/África).
Desta vez, o espaço (nação) poderá ser visto na sua fragmentação (partes urbanas) e como o ficcionista pode articular e traduzir estas relações. Na leitura de “fragmentos” de seus textos, o escritor angolano José Eduardo Agualusa, revelou uma Luanda (chamada carinhosamente de Lua) que se encontra entre os muitos conflitos causados pela urbanização caótica do país em reconstrução, em que desigualdades sociais tendem a aumentar. O autor, que antecipou partes de um romance ainda inédito, menciona a construção de um prédio gigantesco que representa verticalmente o que pode ser visto horizontalmente nas ruas de Luanda. Nos andares mais altos estão os ricos (protegidos por guardas armados) e nas galerias (subterrâneo) estão os miseráveis e marginalizados.
Nas leituras de Agualusa foram mencionados o lixo, a "menina-cão", o barulho dos carros, e toda uma urbanização que faz de Lua algo entre o belo e o aterrador, e que como afirma o autor, capaz de causar a loucura em seus habitantes.
Como a proposta do simpósio são as perspectivas de cooperação, apoiadas ou não em semelhanças, posso enfatizar que as vidas de homens e ratazanas nas galerias do prédio “fictício” de Agualusa se comparam aos “homens-cabiru” que foram apresentados na palestra anterior, que tratava da urbanização do Recife (megacidades e sustentabilidade). Por isso, torna-se estranho que o autor responda que é uma responsabilidade muito grande escrever de forma comprometida com a sua terra (nação) e com os problemas sociais e culturais que se apresentam. E com isso, ele ainda ressaltou que história é uma coisa e ficção é outra coisa. Mas, ainda que sejam diferentes, não são opostas e ao pesquisador (seja em história, literatura, sociologia, etc.) é possível encontrar pontos de interseções entre ambas.

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