sexta-feira, 30 de outubro de 2009


Esboços II
Fabiana Móes Miranda

Entre os debates deste ano (2009), podemos destacar o promovido pelo Departamento de Antropologia da UFPE, que como convidado trouxe o prof.º nigeriano Hebert Ekwe Ekwe, para discutir as Perspectivas Contemporâneas sobre o Estado Africano. Foi possível observar que a fala do professor Ekwe Ekwe destaca como cada uma das nações que compõem os estados africanos pode se converter nos lugares possíveis para as transformações em todo o continente africano. Pois, é a “força” destas comunidades que permitem as resistências e incorporações, sejam elas religiosas, econômicas, tecnológicas, etc. As comunidades reinterpretam e transformam o que vem com a globalização. Assim, “os modelos de resistência para a África dependem das próprias condições” destas comunidades.

Com isso, ele destaca as ações do ambiente e da “paisagem espiritual” para a formação de uma resistência que mantenha a união das comunidades nas nações africanas. Pois, de certa forma, ficaria ao encargo destas comunidades as reestruturações (pós) independências dos países africanos. Assim, o prof.º Ekwe Ekwe coloca a seguinte questão: “Como é possível formar um estado que responda/resolva as questões das nações?” Lembrando ainda que o apoio das comunidades é fundamental para a configuração de novos governos (ainda que estes, posteriormente, não se mantenham “leais” aos desejos da comunidade).

Como podemos observar o elo entre a narrativa histórica e a narrativa literária se estreita, uma vez que a memória passa a ser a reconfiguradora de uma realidade passada e de uma realidade ainda em definição. Mas, apesar do elo entre elas, as narrativas históricas e literárias também divergem e se complementam. Como no livro de Mia Couto, A varanda do Frangipani, o personagem morto não quer virar herói nacional. Não quer que seus ossos sejam levados para outro local que não seja sob a árvore onde foi enterrado. De certa forma, Mia reconstrói bem esta narrativa que se faz também histórica. Ser um herói nacional é ser “vulto” a quem as pessoas gostam sem gostar e o protagonista defunto não quer deixar suas raízes (as raízes do frangipani).

A necessidade da comunidade de se ver representada por um herói para o fortalecimento de sua identidade está totalmente em desacordo com as memórias do possível herói. A memória pessoal, que neste caso, deve ser sacrificada em lugar de uma memória construída e coletiva. Isto faz com que o autor coloque, na narrativa, personagens dos velhos abandonados (que vão morrendo na medida em que os mais jovens esquecem sua relação com a ancestralidade). Um a um eles vão se “entregar” e o defunto (corporificado em soldado) vai “juntando” estas memórias, entre falsas e verdadeiras, para solucionar um crime. A pergunta que Mia Couto poderia estar querendo trazer, talvez seja: “como é possível formar um estado que responda/resolva as questões das nações, sem que se matem as memórias do povo?”

Assim, Ermelindo Mucanga (o morto) estava contra sua comunidade, pois já não se via integrado em nenhum projeto de nação (muito menos quando nunca soube qual tinha sido o seu papel nesta nação, uma vez que morreu edificando um forte). Este “herói” prefere se comprometer com a memória dos idosos e continuar sua vida de espírito “misturado” com a terra.


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Herbert Ekwe-Ekwe is a Nigerian political scientist and historian, and director of the Centre for Cross-Cultural Studies, Senegal. Among his books are African Literature in Defence of History: An Essay on Chinua Achebe (Michigan State University Press, 2001) and Issues in Nigerian Politics Since the Fall of the Second Republic 1984-1990 (Edwin Mellen press, 1992).

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