sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Esboços 3
Fabiana Móes Miranda

Tenho falado aqui de narrativas históricas e narrativas ficcionais na composição de uma imagem/imaginário africano em solo brasileiro. No simpósio que está sendo realizado de 9 a 13 de novembro na UFPE, Recife/Luanda: perspectivas para a cooperação Brasil+África+Alemanha, pudemos observar, mais uma vez, como são formadas as representações no sentido de construção de identidades na relação dos dois países (Brasil/África).
Desta vez, o espaço (nação) poderá ser visto na sua fragmentação (partes urbanas) e como o ficcionista pode articular e traduzir estas relações. Na leitura de “fragmentos” de seus textos, o escritor angolano José Eduardo Agualusa, revelou uma Luanda (chamada carinhosamente de Lua) que se encontra entre os muitos conflitos causados pela urbanização caótica do país em reconstrução, em que desigualdades sociais tendem a aumentar. O autor, que antecipou partes de um romance ainda inédito, menciona a construção de um prédio gigantesco que representa verticalmente o que pode ser visto horizontalmente nas ruas de Luanda. Nos andares mais altos estão os ricos (protegidos por guardas armados) e nas galerias (subterrâneo) estão os miseráveis e marginalizados.
Nas leituras de Agualusa foram mencionados o lixo, a "menina-cão", o barulho dos carros, e toda uma urbanização que faz de Lua algo entre o belo e o aterrador, e que como afirma o autor, capaz de causar a loucura em seus habitantes.
Como a proposta do simpósio são as perspectivas de cooperação, apoiadas ou não em semelhanças, posso enfatizar que as vidas de homens e ratazanas nas galerias do prédio “fictício” de Agualusa se comparam aos “homens-cabiru” que foram apresentados na palestra anterior, que tratava da urbanização do Recife (megacidades e sustentabilidade). Por isso, torna-se estranho que o autor responda que é uma responsabilidade muito grande escrever de forma comprometida com a sua terra (nação) e com os problemas sociais e culturais que se apresentam. E com isso, ele ainda ressaltou que história é uma coisa e ficção é outra coisa. Mas, ainda que sejam diferentes, não são opostas e ao pesquisador (seja em história, literatura, sociologia, etc.) é possível encontrar pontos de interseções entre ambas.

Agualusa e as mulheres do meu pai

Artur A. de Ataíde *


José Eduardo Agualusa amanhã na UFPE
09.11.2009
Hoje pela manhã, no auditório térreo do CFCH, na UFPE, teve início um evento cujo potencial de interesse, sobretudo frente aos recifenses, é difícil de delimitar. Falaram hoje um historiador e um cientista político; amanhã, pela manhã, falam uma especialista em engenharia ambiental, uma arquiteta, um escritor e uma linguista. E a semana segue: arquitetos, gestores públicos, artistas plásticos e pesquisadores de campos variados, que vão da medicina fitoterápica às culturas urbanas contemporâneas. O que isso tudo tem a ver com o Recife: é em função da complexidade intrínseca à identidade cultural da cidade — aliás, de duas cidades — que essa multiplicidade de saberes foi mobilizada. Trata-se do Simpósio Internacional Recife-Luanda: perspectivas para cooperação trilateral Brasil-África-Alemanha, organizado pelo CCBA – Centro Cultural Brasil-Alemanha, e pela UFPE.

No que diz respeito, mais diretamente, à literatura: o escritor presente na programação, que fala amanhã, é o angolano José Eduardo Agualusa, que tem publicados, entre outras coisas, três volumes de contos e oito romances, facilmente encontráveis em nossas livrarias. No site do CCBA há mais informações sobre o escritor, além da programação completa do evento: www.ccba.org.br.

Quanto à questão das relações entre as duas cidades, em lugar de respostas, vão aqui duas perguntas: 1. Qual a razão de ouvirmos, talvez semanalmente, maracatus percorrerem as ruas do Recife Antigo chamando por Luanda? 2. Até que ponto a literatura de Agualusa (que, aliás, já morou em Olinda) nos é, de fato, estrangeira?

("Luanda, Luanda, onde estás?", "Luanda, Luanda, onde estou?", pergunta Ascenso).

Abaixo, segue uma resenha do romance As mulheres do meu pai, publicado por Agualusa em 2007.

Abraços e até lá.

(Artur A. de Ataíde)
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José Eduardo Agualusa no Simpósio Internacional Recife-Luanda: perspectivas para a cooperação trilateral Brasil-África-Alemanha

A presença do escritor José Eduardo Agualusa no Recife, por ocasião do Simpósio Internacional Recife-Luanda, não se justifica meramente por sua origem (o autor, de fato, nasceu em Angola, na cidade de Huambo). Tratar com maior detalhe a questão — o que fazemos a seguir — talvez compreenda a melhor das introduções não apenas à sua obra, mas também ao que vamos encontrar de 9 a 13 de novembro no auditório do CFCH, na UFPE.

As mulheres do meu pai

No romance As mulheres do meu pai, publicado por Agualusa em 2007, vemos o desenrolar simultâneo de duas histórias entrelaçadas. Uma delas é o diário de um escritor que, ao lado de uma documentarista e de um fotógrafo, empreende uma longa viagem de Angola a Moçambique, a fim de colher material para um filme sobre a música africana e sobre a situação das mulheres no sul da África. A viagem foi de fato realizada por Agualusa: ao lado da documentarista inglesa Karen Boswall, radicada em Moçambique, e do fotógrafo catalão Jordi Burch. A segunda história compreende a saga de uma documentarista portuguesa, Laurentina, no encalço de um homem recém-falecido, o músico jazzista Faustino Manso, de Angola, que, além de tocar contrabaixo como poucos, conta em sua biografia com uma circunstância peculiar: a de haver constituído família com sete mulheres diferentes, distribuídas ao longo da costa africana — de Angola a Moçambique —, deixando-lhes, ao todo, dezoito filhos, além de alguma saudade. Laurentina descobrira há pouco ter sido Faustino o seu verdadeiro pai, de modo que sua viagem pela África é também uma busca por si mesma, por suas origens.

Esses, que seriam os dois núcleos do romance, vale dizer, deixam-se enriquecer ainda por uma série de ingredientes adicionais, que não poderiam passar sem referência. Enquanto segue a leitura, por exemplo, somos frequentemente surpreendidos com a conversão flagrante, desinibida, de experiências "reais" da viagem de Agualusa em elementos-chave da viagem "ficcional" de Laurentina, gerando uma espécie prazerosa de déjà vu narrativo. Há ainda o registro impressivo de lugares e paisagens as mais díspares, desde o centro vivamente caótico de Luanda ao abandono incandescente de Wlotzkas Baken, incluído com o intuito de, quem sabe, suprir o desejo do narrador por "guias de viagem que fossem, simplesmente, colectâneas de poesia"; há as discussões sobre civilização, comunismo, mestiçagem, racismo e apartheid; há a coleção de fragmentos de entrevista, textos de catálogo ou simples comentários acerca de músicos, fotógrafos e poetas, sejam eles angolanos, moçambicanos ou sul-africanos, que se entremeia à narrativa — sua presença é o indício de que Agualusa terá dado ouvidos ao que diz Seretha du Toit à "construtora de memórias" Laurentina: "não é possível construir um país sem investir na memória"; e há, finalmente, o gosto indisfarçável pelo puro contar histórias, pelo enredar de tramas que vão dos crimes de guerra ao desencontro amoroso, envolvendo personagens as mais heterogêneas e imprevistas.

Diante de todo esse emaranhado, no entanto, é apenas um pormenor especial o que nos interessa agora. Pormenor típico de um fabulista: aquele que pensa e faz pensar por meio de histórias. É aí que voltamos a nosso ponto inicial.

O caso é que, antes mesmo de vermos Laurentina ser recebida alegremente, como uma parenta distante, mas já esperada, no funeral de Faustino, a acontecer na casa de Anacleta — primeira mulher do músico e última parada sua, depois de seu périplo africano; antes mesmo de a vermos se reconhecer entre seus novos irmãos e sobrinhos, que tinham já uma vaga notícia dessa outra filha Laurentina, Agualusa já nos acena com uma perspectiva intrigante: a hipótese de o músico Faustino Manso ter sido estéril.

O pormenor, salvo engano, traz implicações maiores que a mera complicação novelesca. Os laços que tão afetuosamente ligam Laurentina à família Manso, e que fazem desta uma família, longe de serem laços de sangue, podem não passar de laços, digamos, ficcionais: sete mulheres e dezoito filhos ligados pelos poderes do conto, pelos poderes de uma memória que mistura fato e fábula. A esterilidade biológica de Faustino, desse modo, não é nada ante a fecundidade simbólica de sua figura: o novelo de invenções — a própria família Manso — que fez Laurentina correr a África, a esta altura, já é parte inalienável de sua experiência de vida, já a constitui. É semelhante ao que acontece à estranha coleção de insetos de Mauro, um italiano que mantém uma pousada na Ilha de Moçambique. Mauro tem por hobby instalar mecanismos em besouros mortos, que voltam a bater asas como seres híbridos, mistos de natureza originária e invenção incorporada.

Com o pormenor, enfim, o ciclo se completa: assim como vimos o real alimentar a ficção, vemos agora a ficção fundar o real.

"O teu pai é uma invenção", diz Bartolomeu a Laurentina: se a frase não se aplica apenas à personagem e a seu destino particular, mas também pode nos servir de parâmetro em qualquer discussão sobre origem e identidade, o que ela nos diz é que há algo muito mais importante a esse respeito do que nossa árvore genealógica. Esse algo é aquilo que inventamos quando estamos juntos: cultura. Uma identidade não se compõe de meros atavismos estanques, mas de um movimento incessante, sempre vivo, de recriação. Com essa visão de identidade cultural, típica de "nações crioulas", é que as perspectivas de cooperação do Simpósio ganham sentido pleno: é de culturas que se reconhecem em pleno trânsito que estamos falando, e de diálogos que semeiem possibilidades reais de movimentação.

O caos efervescente da Luanda de Agualusa, a confusão de línguas e culturas da Berlin atual e a abertura do Recife para o oceano: essas são as três imagens inspiradoras, móveis, que esperamos ver em diálogo no Simpósio; três identidades divididas, como a de Laurentina, entre a origem e a invenção.

Portas de entrada

Toda cidade excede, em muito, o seu território, a sua geografia, a matéria aparentemente intransitiva dos seus edifícios, do semáforo, das calçadas em ruína. Na mudez desses objetos, esconde-se uma espécie de coro: acompanhando-o em harmonia inconsciente, raras vezes nos damos conta dele, mas um arquiteto historiador, por exemplo, ou simplesmente um estrangeiro, irá lhe distinguir não só as vozes e modulações sutis, mas também o complexo sinfônico de que é parte, junto ao nosso modo de caminhar, de gerir a coisa pública ou de tratar o outro num ônibus. A cidade, visível e invisível, vai da vegetação típica aos desejos e traumas de quem nela vive, vai do revestimento dos edifícios ao ritmo dos gestos numa praça de subúrbio: vai de uma ponta à outra, enfim, do espectro confuso de que se faz uma cultura. Aí, pois, estão as nossas portas de entrada: as cidades do Recife e de Luanda em diálogo, através do olhar de historiadores, cientistas políticos, arquitetos, gestores públicos, escritores e artistas.
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* Artur A. de Ataíde é doutorando em Teoria da Literatura. Esta resenha se encontra no blog da Revista Crispim.

sábado, 31 de outubro de 2009

O artista plástico angolano António Ole é um dos destaques do Simpósio Recife-Luanda


Um dos destaques do “Simpósio Internacional Recife – Luanda: Perspectivas para a Cooperação Trilateral Brasil + África + Alemanha”, promovido pelo Centro Cultural Brasil-Alemanha e a Universidade Federal de Pernambuco, entre os dias 9 e de novembro, será a presença do artista plástico António Ole. Ele fará palestra intitulada “Luanda – Uma Leitura Artística”, na quinta-feira (12), às 8h30, no dia em que o evento elege para reflexão o tema “Arte e Cultura Urbana na África”.

Artista múltiplo, Ole nasceu em 1951, em Luanda, Angola. Em seu país e em sua gente, encontrou diversidade de materiais expressivos e fonte inesgotável de inspiração. É não é à toa que é lá onde vive e trabalha até hoje. É considerado uma das mais importantes referências da cultura africana contemporânea e tem renomada carreira como pintor e escultor. Sua primeira exposição remete ao ano de 1967.
Ole é descendente de família portuguesa e angolana. Talvez, por essa razão tenha dito, certa vez, que o seu trabalho resulta do encontro dessas duas culturas – a cultura africana e a cultura europeia. “Isso é enriquecedor, nunca achei que reduzisse qualquer capacidade. Nem constitui nenhum dilema existencial, porque, no fundo, além desse fato de ser angolano e de viver em Angola, eu sinto-me um cidadão do mundo e, ao sentir-me cidadão do mundo, estou sempre permeável a muitas coisas que estão a passar-se noutros pontos do globo e não só, necessariamente, ao que me atinge ou me toca no meu aquário, no meu bairro”.

Em mais de quatro décadas de carreira artística, António Ole passeou não só pelas artes plásticas. Todos os nuances culturais com que vai se defrontando vão lhe chamando a atenção ao longo de sua vida criativa. Ainda em 1974, fez parte da equipe do “Contrato Popular”, um programa radiofônico; em 1975, participou, na Televisão Popular de Angola, da cobertura das celebrações do 11 de Novembro em Luanda (Dia da Independência de Angola); nesse mesmo ano, formou-se no American Film Institute, em Los Angeles (EUA); entre 1981 e 1985, estudou cultura afro-americana e cinema na Universidade da Califórnia, também nos Estados Unidos, onde obteve o diploma do Center for Advanced Film Studies.

Criador inquieto, dirigiu vários documentários e vídeos, entre os quais “Os Ferroviários”, “Aprender”, "Carnaval da Vitória”, e o filme “Ngola Ritmos” sobre o grupo musical angolano de mesmo nome, dos anos 50, que só veio a ser exibido 11 anos depois de sua realização, em função dos conflitos entre o líder da banda e o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA).
O artista angolano Olé também se expressou por meio de outras técnicas, a exemplo da colagem e das instalações contemporâneas.

Sua estreia internacional aconteceu em 1984, no Museum of African Art, em Los Angeles. A partir daí, os seus trabalhos foram mostrados em importantes exposições internacionais e em bienais. Já expôs em Havana (1986, 1988, 1997), São Paulo (1987), Sevilha (1992), Berlim (1997), Joanesburgo (1995 e 1997), Dakar (1998), Amsterdã(2001) e Veneza(2003).

http://www.ccba.com.br/asp/cultura_texto.asp?idtexto=1188

sexta-feira, 30 de outubro de 2009


Esboços II
Fabiana Móes Miranda

Entre os debates deste ano (2009), podemos destacar o promovido pelo Departamento de Antropologia da UFPE, que como convidado trouxe o prof.º nigeriano Hebert Ekwe Ekwe, para discutir as Perspectivas Contemporâneas sobre o Estado Africano. Foi possível observar que a fala do professor Ekwe Ekwe destaca como cada uma das nações que compõem os estados africanos pode se converter nos lugares possíveis para as transformações em todo o continente africano. Pois, é a “força” destas comunidades que permitem as resistências e incorporações, sejam elas religiosas, econômicas, tecnológicas, etc. As comunidades reinterpretam e transformam o que vem com a globalização. Assim, “os modelos de resistência para a África dependem das próprias condições” destas comunidades.

Com isso, ele destaca as ações do ambiente e da “paisagem espiritual” para a formação de uma resistência que mantenha a união das comunidades nas nações africanas. Pois, de certa forma, ficaria ao encargo destas comunidades as reestruturações (pós) independências dos países africanos. Assim, o prof.º Ekwe Ekwe coloca a seguinte questão: “Como é possível formar um estado que responda/resolva as questões das nações?” Lembrando ainda que o apoio das comunidades é fundamental para a configuração de novos governos (ainda que estes, posteriormente, não se mantenham “leais” aos desejos da comunidade).

Como podemos observar o elo entre a narrativa histórica e a narrativa literária se estreita, uma vez que a memória passa a ser a reconfiguradora de uma realidade passada e de uma realidade ainda em definição. Mas, apesar do elo entre elas, as narrativas históricas e literárias também divergem e se complementam. Como no livro de Mia Couto, A varanda do Frangipani, o personagem morto não quer virar herói nacional. Não quer que seus ossos sejam levados para outro local que não seja sob a árvore onde foi enterrado. De certa forma, Mia reconstrói bem esta narrativa que se faz também histórica. Ser um herói nacional é ser “vulto” a quem as pessoas gostam sem gostar e o protagonista defunto não quer deixar suas raízes (as raízes do frangipani).

A necessidade da comunidade de se ver representada por um herói para o fortalecimento de sua identidade está totalmente em desacordo com as memórias do possível herói. A memória pessoal, que neste caso, deve ser sacrificada em lugar de uma memória construída e coletiva. Isto faz com que o autor coloque, na narrativa, personagens dos velhos abandonados (que vão morrendo na medida em que os mais jovens esquecem sua relação com a ancestralidade). Um a um eles vão se “entregar” e o defunto (corporificado em soldado) vai “juntando” estas memórias, entre falsas e verdadeiras, para solucionar um crime. A pergunta que Mia Couto poderia estar querendo trazer, talvez seja: “como é possível formar um estado que responda/resolva as questões das nações, sem que se matem as memórias do povo?”

Assim, Ermelindo Mucanga (o morto) estava contra sua comunidade, pois já não se via integrado em nenhum projeto de nação (muito menos quando nunca soube qual tinha sido o seu papel nesta nação, uma vez que morreu edificando um forte). Este “herói” prefere se comprometer com a memória dos idosos e continuar sua vida de espírito “misturado” com a terra.


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Herbert Ekwe-Ekwe is a Nigerian political scientist and historian, and director of the Centre for Cross-Cultural Studies, Senegal. Among his books are African Literature in Defence of History: An Essay on Chinua Achebe (Michigan State University Press, 2001) and Issues in Nigerian Politics Since the Fall of the Second Republic 1984-1990 (Edwin Mellen press, 1992).

Simpósio Internacional Recife – Luanda: Pontos de Partida e Perspectivas para a Cooperação Trilateral Brasil, África, Alemanha





O Centro Cultural Brasil-Alemanha (CCBA) realizará, entre os dias 9 e 13 de novembro, no auditório do Centro de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Pernambuco (CFCH/UFPE), o “Simpósio Internacional Recife – Luanda: Pontos de Partida e Perspectivas para a Cooperação Trilateral Brasil, África, Alemanha”.

O projeto, idealizado pelo CCBA, foi aprovado pelo Ministério de Cooperação Econômica e Desenvolvimento da República Federal da Alemanha. “Queremos nos dedicar à observação dessas duas metrópoles do Hemisfério Sul, tentando compreender de que maneira elas estão enfrentando os desafios globais”, enfatiza Christoph Ostendorf, diretor do CCBA no Recife.

Entre os objetivos do simpósio, destacam-se, ainda, identificar novas oportunidades de cooperação entre o Brasil e a África, mapeando as áreas promissoras para o intercâmbio cultural e a cooperação entre Recife e Luanda; comparar as duas metrópoles, a partir de leituras interdisciplinares; além de promover uma discussão ampla acerca das condições institucionais existentes, visando projetos triangulares de intercâmbio cultural e de cooperação técnica e social.

“Durante o evento, também queremos que sejam apresentados os programas de intercâmbio acadêmico e de cooperação científica triangulares, já existentes no Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico (DAAD) e na Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes)”, complementou o diretor.

TEMAS EM DISCUSSÃO
Entre as participações confirmadas destacam-se a do escritor José Eduardo Agualusa (foto acima), que fará a palestra “Luanda Entre Realidade e Ficção – Leituras”; a do historiador e professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), José Bento, que falará sobre “Recife-Luanda: Reaproximações Históricas e Culturais”; a do professor Ulf Vierke da Universidade de Bayreuth (Alemanha), que abordará o tema “Cultura Urbana Contemporânea em Luanda e Nairobi”; a do cientista político e professor da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), Thales Cavalcanti Castro, que vai explanar sobre o tema “Brasil-Angola: A Nova Agenda de Cooperação Política e Econômica”. “Megacity Recife – Uma Radiografia Socioambiental” será o tema a ser discutido pela engenheira ambiental e professora da Universidade de Pernambuco (UPE-POLI), Fátima Brayner, em parceria com a arquiteta e professora da UFPE, Gabriela Barbosa. O artista plástico António Olé abordará o tema “Luanda – Uma Leitura Artística”.
O evento é voltado para pesquisadores, professores, estudantes, gestores públicos, integrantes de organizações não-governamentais (ONGs), além de representantes de agências de cooperação. O simpósio é aberto ao público.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009


Narrativas África/Brasil: história e literatura (esboços)
Fabiana Móes Miranda

Canto de uma escrava
Malan
Eu era uma triste escrava,
Ai! E que bem triste escrava,
Que vinha para embarcar
O meu senhor vestiu-me
E zangado batia-me
Com ramo de coral;
E pensava-me as chagas
Co’o mais doce licor;
E limpava-me as f’ridas
Com lenço de cambaria
E eu era triste escrava
Que vinha para embarcar
- que bem ba par bàe.


Os estudos da história africana têm aberto caminhos para que se discutam as complexidades dos povos africanos e nos ajuda a refletir situações em nosso próprio processo sociocultural por outro viés que não apenas o do “civilizador”. Como não poderia deixar de ser, muitas pesquisas e estudos têm seguido o caminho aberto para a inserção desta disciplina e os estudos literários também procuram encontrar o seu “lugar”.

Entretanto, tenho observado em alguns encontros e simpósios, em que tive a oportunidade de comparecer, que existem ainda muitas lacunas entre o que é estudado (representação) e a realidade (compreensão). No atual momento histórico temos a oportunidade de intercambiar experiências com alunos vindos do continente africano e que podem contribuir com sua “voz” ou o seu “grito” para que possamos chegar a uma África maior (que até mesmo nos mapas geográficos outrora foi reduzida e esmagada). Vou colocar aqui algumas questões que observei e que, posteriormente, podem ser mais bem discutidas por estudiosos mais qualificados:

a)Parece que há um lugar vazio (e não um “entre-lugar”) entre a história da África e a história dos negros no Brasil.
b)Nos próprios estudos literários os caminhos para chegar à África são muitos e podem trazer excelentes desafios ao crítico e/ou professor de literatura.

Por enquanto, fico nestas duas questões, que já são bastante abrangentes. Vou examiná-las pelo elo da narrativa, que se torna comum à história e à literatura. Freqüentemente, pode-se escutar dos alunos de origem africana com se colocam reticentes contra muitas idéias que partem dos afro-descendentes (ou outros grupos) no Brasil. Uma das ressalvas sempre levantadas é sobre a “romantização” de uma África por parte dos brasileiros, numa espécie de busca por raízes ou outra forma de representação social e cultural que não seja a do “colonizador”. Também é certo que não podemos negar este discurso de legitimação por parte dos grupos que querem encontrar na identidade africana uma identidade de resistência e luta (a questão da democracia racial e suas formas de inclusão social ficam de lado, por enquanto). Mas, a África não é uma, mas é múltipla em todos os sentidos - até mesmo étnicos - (há uma África branca, muçulmana, socialista, etc.). Para o povo brasileiro não se pode “retornar” para a África, mas recebê-la em sua diversidade e aprender a ouvir, o resgate que podemos fazer é que pode abrir portas e janelas para o diálogo.

No ensino de literatura, a narrativa não é diferente, tentamos “resgatar” as Áfricas no contexto também lingüístico e pela recepção da literatura brasileira em terra africana de colonização portuguesa. Há diversos estudos literários que tratam desde as diásporas africanas até estruturas dos textos de autores africanos. Para estes estudos as possibilidades são riquíssimas, pois é necessário “reinventar” formas de ver as concepções críticas tradicionais e confrontá-las com métodos não previstos e que são as singularidades destas literaturas. Podemos citar a oralidade, os crioulismos e formas inusitadas de narrativas/cantos (como as mornas de Cabo Verde). Não se pode enquadrar a literatura africana apenas com mais uma literatura de língua portuguesa - como lembrou um aluno de Cabo Verde, aquilo que está escrito em forma de romance é também a história recente de seu povo.

É neste ponto em que as narrativas históricas e literárias se encontram e podem ser confrontadas com a recepção que agora ocorre de forma inversa, ou seja, como os brasileiros estão recebendo e tratando a África em sua terra, desta vez não como mão-de-obra explorada, mas como uma diversidade de nações, culturas, idiomas. Não podemos querer apenas a África com suas representações “orientais” e exóticas, pois muitos países africanos procuram representações no ocidente, para se reestruturarem economicamente e politicamente, depois de tantas intervenções imperialistas.
Espero que outras vozes possam contribuir neste começo de diálogo.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Tayari Jones nasceu e cresceu na cidade de Atlanta, no estado da Georgia, onde passou a maior parte de sua infância com exceção de um ano em que ela e sua família viveram na Nigéria. Embora já não esteja vivendo em sua região de origem nos EUA por mais de uma década, muitos de seus escritos têm como pano de fundo regiões urbanas do sul norte-americano. “Embora resida agora no nordeste dos EUA”, explica ela, “minha imaginação vive em Atlanta.”

TAYARI JONES NO CFCH

Tayari Jones em palestra no CFCH: 06/10 às 9h no auditório de antropologia 13º andar

Seu primeiro romance, “Leaving Atlanta” (Deixando Atlanta, 2002), se baseia em assassinatos de crianças negras entre 1979 e 1981 na cidade de Atlanta. Tayari Jones estava cursando o ensino fundamental quando trinta crianças afro-americanas foram mortas por vizinhos. “Este romance é minha maneira de documentar um momento particular na história. É uma carta de amor à minha geração e também um esforço de lembrar da minha própria infância. Tem o objetivo de destacar aos meus leitores e a mim mesma, como foi ter onze anos de idade naquele período e viver dependendo da misericórdia do mundo. Apesar de tudo que vivemos, também desejei recordar tudo de belo sobre a infância de uma garota e trazer a memória todos os momentos que faz uma pessoa sorrir e sentir-se otimista.”

“Leaving Atlanta” ganhou o Prêmio Hurston/Wright de Primeira Obra de Ficção. Ganhou o título de “Romance do Ano” pela revista Atlanta Magazine, “Melhor Romance Sulista do Ano” pela publicação Creative Loafing Atlanta. Foi considerado um dos melhores do ano pelos jornais The Atlanta Journal-Constitution e The Washington Post.

domingo, 4 de outubro de 2009



O Diretório Acadêmico do curso de Letras da Universidade Católica de Pernambuco - UNICAP promoverá, entre os dias 6 e 8 de outubro, o II Circuito Literário que, neste ano, tem como tema a Literatura Africana: entre olhares. Nos dias 6 e 8 o evento será realizado no auditório GI da Universidade Católica de Pernambuco, enquanto no dia 7 a programação será realizada nas salas 311 e 410 do bloco B.

No dia 7, será realizada uma oficina em que histórias africanas serão contadas. O encontro contará com a presença de pesquisadores da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e de alunos da pós-graduação em Literaturas africanas de língua portuguesa da FAFIRE compondo uma mesa com a professora e representante do Núcleo de Estudos Brasil-África (NEBA - UFPE/CFCH), Me. Joelma Santos.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009



UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS NÚCLEO DE ESTUDOS BRASIL-ÁFRICA


CONSULADO DOS ESTADOS UNIDOS NO RECIFE
NEBA (NÚCLEO DE ESTUDOS BRASIL-ÁFRICA UFPE)




CONVIDAM PARA A PALESTRA COM A


ESCRITORA TAYARI JONES
PROFª DA UNIVERSIDADE RUTGERS - NEWARK


DIA: 06. 10. 2009
HORA: 9:00
LOCAL: AUDITÓRIO DE ANTROPOLOGIA
3º ANDAR DO CFHC/UFPE

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

domingo, 20 de setembro de 2009

O NEBA recomenda:


UFPE e Museu da Abolição promovem exposição de máscaras africanas

A exposição “Máscaras Africanas: Arte, Mitos e Tradições”, oferecida pelos alunos do Curso de Extensão de Modelagem em Argila e pelos professores Suely Cisneiros e Rui Cruz Pacheco, do Departamento de Teoria da Arte da UFPE, estará aberta à visitação de 23 de setembro a 11 de dezembro. A abertura do evento ocorre no próximo dia 22, às 19h, no Museu da Abolição, mesmo local da exposição. O horário de visitação é de segunda a sexta, das 9h às 12h e das 14h às 17h.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

O NEBA recomenda:



"IMAGEM DOS POVOS é uma Mostra Audiovisual que anualmente reúne as produções de lugares distintos, países e/ou regiões do Brasil e do mundo, para um diálogo em Minas Gerais, com a nossa cultura, nossos criadores e público. Em 2009 o foco é a França e suas co-produções com a África, Brasil e Caribe." O calendário de exibições se estende até o fim do mês de agosto.
Mais informações e a programação completa do evento no site http://www.imagemdospovos.com.br/

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

O NEBA recomenda:



"Para quando a África? Esta é uma pergunta que preferimos evitar, de tal modo África parece não ter futuro. Mas Joseph Ki-Zerbo, historiador e homem de ação burkinês, não pode nem quer ocultá-la. Durante esta longa e notável entrevista - que, sob certos aspectos, refaz o percurso de sua vida -, ele desenha um relato vivo e comovente da África nos tempos da globalização. Uma África que, segundo ele, desde o século XVI, é uma espécie de vagão do trem do desenvolvimento.
Joseph Ki-zerbo contribuiu grandemente para dotar a África de uma história própria, diferente da escrita pelo colonizador. Para ele, a África, que por assim dizer inventou o homem - pois nela se desenvolveu a primeira grande civilização da humanidade, a egípcia -, deve conquistar sua identidade, orgulhosa de sua contribuição para a aventura humana, a fim de tornar-se um ator no mundo. ' Sem identidade - diz ele -, somos um objeto da história, um instrumento usado pelos outros, um utensílio.'
Esta é uma obra apaixonante, plena de uma África vivida e estudada durante décadas, rica de profundas reflexões do autor sobre o papel de sua profissão para a ação concreta dos homens, foi publicada como uma gota de esperança num oceano de tragédia.
Joseph Ki-zerbo, nascido em Toma (Burkina Fasso) em 1922, é historiador. Publicou a Histoire de l'Afrique noir (Hatier), dirigiu dois volumes da monumental Histoire générale de l'Afrique (UNESCO) e La Natte des autres: pour un développement endogène en Afrique (Kartala). É entrevistado por René Holenstein, doutor em História e especialista em questões de desenvolvimento, que trabalha há muito tempo em Burkina Fasso
Este livro obteve o prémio RFI Témoin du Monde 2003."

domingo, 26 de julho de 2009





Registro da reunião do dia 20 de julho de 2009. Da esquerda para a direita: Fabiana Móes, Roberto Cordeiro, o professor Walteir Silva, Teresa Cristina e Joelma Santos. O encontro teve em vista o fortalecimento dos planos de ação e das atividades propostas para o segundo semestre de 2009. Entre as ações podemos citar a promoção do Vídeo NEBA e o empreendimento de Jornadas Interdisciplinares.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Mwangole

O NEBA recomenda:
Exposição fotográfica Mwangole - gente de Angola
Museu da Abolição/de 18 de junho a 28 de agosto de 2009
segunda a sexta, das 9 às 17h

terça-feira, 14 de julho de 2009